Nosso projeto entrevistou a professora Tanya Amara Felipe.
1.
1. Professora Tanya Felipe, você tem uma larga experiência na
área de Linguística, com ênfase em Língua Brasileira de Sinais. O que despertou seu
interesse por essa área de estudo?
Quando fazia mestrado na UFPE descobri a Libras.
Comecei a frequentar a Associação dos Surdos de Pernambuco para coletar dados e
me dei conta daquela comunidade (minoria linguística, cultura e língua). Passei
a lutar por uma educação bilíngue e não consegui sair mais...
3. Apesar de haver interesse por boa parte dos alunos, ainda são muito poucas, ou nenhuma, as disciplinas de LIBRAS nas licenciaturas das faculdades brasileiras. Aqui na UERJ, por exemplo, isso é exclusividade do curso de Pedagogia. Como tal quadro se reflete nas salas de aula das escolas brasileiras? A falta de preparo dos professores ainda é um dos maiores obstáculos das políticas de inclusão para surdos? Qual é a sua opinião a respeito de tal política?
4. Um dos encaminhamentos de sua dissertação de mestrado foi a elaboração de sugestões de ensino bilíngue para crianças surdas. Você poderia apresentar as que considera mais significativas?
6. Sobre a escrita em LIBRAS, haveria
algum tipo de grafia consagrado (signwriting) ou seria apenas a imagem gravada
em DVD?
Tanya Amara Felipe possui graduação em Letras pela Universidade Católica de Pernambuco (1977), mestrado em Linguística pela Universidade Federal de Pernambuco (1987), doutorado em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996), doutorado em Sanduíche - University of Rochester (1994) e estágio de pós-doutorado em instituições europeias de ensino básico e superior (Espanha, Porto e França). Atualmente presta serviço de consultora para instituições de ensino básico e superior e da área tecnológica, coordena pesquisa/programa da Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos. Tem experiência na área de Linguística, atuando principalmente nas seguintes áreas: metodologia para ensino-aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais - Libras, políticas educacionais para surdos, teoria linguística - gramática da Libras, lexicografia (dicionário da Libras online) e linguística computacional (tradução automática: Português-Libras).
2. A lei de LIBRAS (lei nº 10.436/2002)
foi sancionada há quase dez anos, reconhecendo "como meio legal de
comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – Libras”. Até que ponto,
no Brasil, ainda há resistência em reconhecê-la como língua?
A O problema está na origem: o fato dos surdos
precisarem de um reconhecimento oficial através de decreto, já demonstra a não
aceitação espontânea por parte da sociedade. Com a política de inclusão, no
modelo que vem sendo imposto e não conquistado, a Libras está sendo deslocada
para o AEE e a proposta de uma escola bilíngue está se transformando em um
bilinguismo diglóssico.
3. Apesar de haver interesse por boa parte dos alunos, ainda são muito poucas, ou nenhuma, as disciplinas de LIBRAS nas licenciaturas das faculdades brasileiras. Aqui na UERJ, por exemplo, isso é exclusividade do curso de Pedagogia. Como tal quadro se reflete nas salas de aula das escolas brasileiras? A falta de preparo dos professores ainda é um dos maiores obstáculos das políticas de inclusão para surdos? Qual é a sua opinião a respeito de tal política?
Pelo
decreto que elaboramos, a implementação da disciplina Libras começaria pelos
cursos de pedagogia e há um prazo para que as universidade possam ir fazendo
essa implementação até dez anos, quando todos os cursos de licenciatura e
fonaudiologia tenham como disciplina obrigatória a Libras.
O fato
de ter começado pelo curso de Pedagogia tem gerado um problema com relação ao
profissional que está sendo contratado ou concursado para ministrar essa
disciplina que está se tornando uma disciplina pedagógica e não ensino de
língua. Outro problema tem sido a carga horária reduzida para um curso de
língua. Se não houver uma mudança urgente, o objetivo da inclusão dessa
disciplina não será atingindo, ou seja: Ao final dos cursos de licenciatura, seria
possível ter o número de professores bilíngues em todas as áreas de
conhecimento.
4. Um dos encaminhamentos de sua dissertação de mestrado foi a elaboração de sugestões de ensino bilíngue para crianças surdas. Você poderia apresentar as que considera mais significativas?
Pontos
relevantes: Libras como L1 e Português como L2. Para alunos surdos, Libras como L2 para as crianças ouvintes e
comunidade escolar; elaboração de material didático-pedagógico adequados para
educação de surdos; professores bilíngue entre outros. Estou escrevendo sobre
os detalhes dessa proposta.
5. As novas tecnologias permitem
configurações textuais cada vez mais diversificadas e complexas. Você poderia
falar um pouco do desafio do ensino de leitura e de produção textual em meio
digital para alunos surdos?
Os surdos têm explorado
bastante a internet, sites de relacionamento, blogs, etc.
Estou elaborando um projeto
para a educação digital para surdos, assim será possível desenvolver materiais
didático-pedagógicos que possibilitem acompanhamento personalizado. Leitura e
produção textual exigem uma orientação específica que o surdo pode apreender
desde que se tenha um trabalho específico para e com surdos. Os alunos surdos e
ouvintes têm cabeça de século XXI, mas a escola continua no século passado.
Essa discussão sobre a
necessidade de uma língua na modalidade escrita aponta para um poder
consolidado através da escola. O que representa para nossa sociedade ser uma
pessoal não analfabeta? Mas a questão não é saber ou não
escrever, é saber compreender, inferir, interpretar, ou seja: desvelar um
texto. Isso a escola não tem conseguido nem com os alunos ouvintes.
Nossa cultura se perpetua e se fortalece através da escrita, isso também poderia acontecer com as línguas de sinais, mas ainda não há uma aceitação do signwiting talvez devido ao fato de ainda ser uma escrita “fonética”. Há ainda muito a ser aperfeiçoado e serão as comunidades surdas que decidirão se irão perpetuar sua língua através de uma escrita ou do registro em vídeos ou outra mídia que poderá surgir e que capte melhor essas línguas de modalidade gestual-visual.
No entanto, pensar em um
letramento também em Libras poderia aguçar as crianças surdas para o letramento
em português.
Mas o que tenho percebido que o
problema com leitura e produção textual dos surdos é devido ao tipo de trabalho
das escolas que está ineficiente também para alunos ouvintes.
Nossa cultura se perpetua e se fortalece através da escrita, isso também poderia acontecer com as línguas de sinais, mas ainda não há uma aceitação do signwiting talvez devido ao fato de ainda ser uma escrita “fonética”. Há ainda muito a ser aperfeiçoado e serão as comunidades surdas que decidirão se irão perpetuar sua língua através de uma escrita ou do registro em vídeos ou outra mídia que poderá surgir e que capte melhor essas línguas de modalidade gestual-visual.
7. No Brasil, o que existe de Literatura
em LIBRAS? Há muita escassez nesse aspecto?
Alguns surdos pelo Brasil têm
trabalhado com teatro, há adaptações de contos, fábulas para um enfoque
cultural surdo, tenho visto poesias em Libras. O INES e a Arara Azul têm várias
obras em DVDs. Mas devido ao fato da maioria dos surdos não saber a Libras e
dos que a utilizam, a maioria não adquiriu essa língua como primeira língua,
esta tem sido utilizada mais para a comunicação e não vem sendo utilizada na
função poética. Falta um trabalho escolar para incentivar esse uso também.
8. Quais são seus atuais projetos na área
da surdez?
Estou fazendo uma atualização e
modificações no Livro/DVD Libras em Contexto – Curso Básico – Livro do
Estudante para fazermos a 10ª Edição ainda esse ano. Em parceria com o
SERPRO_Feneis, estamos elaborando o Dicionário Digital da Libras: essa pesquisa
revisará nosso dicionário, incluindo também os regionalismos (Dicionário da
Libras (versão 1.0 -INES, 2003 e versão 2.0, Feneis, 2005 – www.librasemcontexto.org; www.acessibilidadebrasil.org ).
Também estamos organizando o Livro/DVD Libras em Contexto – Curso Intermediário.
Como minhas publicações na área
de linguística e educação de surdos estão publicadas em anais, revistas, etc,
estou organizando esses trabalhos para elaborar dois livros.
Tanya Amara Felipe possui graduação em Letras pela Universidade Católica de Pernambuco (1977), mestrado em Linguística pela Universidade Federal de Pernambuco (1987), doutorado em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996), doutorado em Sanduíche - University of Rochester (1994) e estágio de pós-doutorado em instituições europeias de ensino básico e superior (Espanha, Porto e França). Atualmente presta serviço de consultora para instituições de ensino básico e superior e da área tecnológica, coordena pesquisa/programa da Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos. Tem experiência na área de Linguística, atuando principalmente nas seguintes áreas: metodologia para ensino-aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais - Libras, políticas educacionais para surdos, teoria linguística - gramática da Libras, lexicografia (dicionário da Libras online) e linguística computacional (tradução automática: Português-Libras).
Muito boa a entrevista
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